A educação precisa de perguntas

Dedico às minhas avós, aos meus pais e aos meus queridos(as) professores(as)


As minhas duas avós não tiveram a oportunidade de estudar numa escola regular, mas possuíam aquilo que costumamos chamar de sabedoria. Ambas criaram os seus filhos sozinhas e não lembro de elas reclamarem da vida. Quieto no meu canto, aprendi com elas que educação a gente aprende na família, na escola e principalmente com as nossas relações sociais.

Pena que esse pensamento tenha se perdido no passado. A partir dos anos 1960-70 a televisão brasileira começou a tomar conta de nossas casas, ocupando um lugar de destaque na sala, depois  foi para todos os quartos e acabou tomando conta de muitos corações e mentes desavisados. Aos poucos, as famílias foram sendo seduzidas pelo conforto que a programação lhes dava, e deixaram de sair, visitar os amigos e "perder um pouco de tempo" fazendo outras coisas. Ao mesmo tempo, muitas pessoas começaram a jogar toda a responsabilidade da educação apenas para os professores(as).

Por isso, hoje lembro com muito carinho da educação que recebi das minhas queridas avós,  pais e professores(as).

Contrária a esse raciocínio, a RBS TV, subsidiária da Rede Globo nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ainda está promovendo uma "campanha" chamada A Educação Precisa de Respostas, como se ela tivesse solução para tudo. Ao mesmo tempo, ela mantém em sua grade de programação vários seriados norte-americanos que banalizam a violência,  incentivam a dirigir de forma veloz e furiosa, promovem o consumismo entre as crianças e a juventude. Resumindo: nos seus diminutos jornais fazem um discurso moralista e no minuto seguinte apelam para aquilo que os mantém em bons níveis de audiência, pois isso também dá lucro para eles e para os seus "patrocinadores".

Por isso, eu entendo que cabe perguntar: Afinal, quem é responsável pela educação das nossas crianças, amigos e parentes? Qual é o papel da escola? E da família? E da televisão?

Outro dia eu assistia o programa Conversas Cruzadas, da TV COM, e os debatedores defendiam a campanha Rio Grande do SIM, relacionando as vantagens de morar no Rio Grande do Sul e faziam algumas importantes comparações com os outros estados brasileiros. Enfim, todos defendiam que os gaúchos, além de críticas, também deveriam aprender a valorizar o que já haviam conquistado no seu rico processo histórico. Eu estava gostando, pois morei onze anos fora daqui e percebia claramente o que eles estavam dizendo. Por seu lado, o "moderador-agora candidato" Lasier Martins, surpreso com a fala dos seus convidados parecia não acreditar no que ouvia. Ainda mais que todos eram representantes da iniciativa privada.

Não é que de repente surge uma revelação pedagógica: numa daquelas vinhetas em que a população participa, um simples cidadão diz o seguinte: “Eu não sei. Mas hoje eu vi o Lasier dizer que estava tudo ruim... Então deve estar tudo ruim mesmo!”. Ele acabava de revelar quem reproduzia diariamente uma "educação" pessimista e fatalista de nós mesmos... Ao "apresentador- agora candidato" só restou repetir aquele famoso refrão: Os nossos (sic) comerciais, por favor!!!

Falo isso não apenas pelo fato de ele ser candidato declarado (com direito a campanha antecipada e tudo em horário nobre), mas para lembrarmos que essa “rede” possui interesses comerciais estratégicos que dependem diretamente da política municipal, estadual e nacional. Por isso, costuma lançar seus candidatos. Há pouco tempo ela já tentou participar da privatização da telefonia no estado e teve que se retirar após perder uma acirrada disputa política e jurídica. Se lembrarmos que eles possuem volumosos interesses na área da internet, da construção civil e que estão de olho nos negócios que a Copa do Mundo de 2014 pode trazer, a reflexão fica muito mais complexa.

Ou seja, do ponto de vista "comercial" isso tudo pode ser visto como legítimo. Mas estamos falando de jornalismo, de política e da educação dos nossos amigos, filhos e parentes. É lamentável que muitos gaúchos não se apercebam que essa "educação" está invadindo as nossas casas e também o quarto dos nossos filhos! Infelizmente, muitas pessoas ainda não aprenderam (sic) que a televisão é uma concessão pública (assim como o transporte público), de direito público, e precisa de controle civil externo e de regulamentação.

Sem desmerecer o importante papel dos professores, eu entendo que a educação está precisando de mais boas perguntas do que de respostas direcionadas. Já diziam as minhas queridas avós...