O Tigre e o Dragão, a verdadeira habilidade

Publicado por Ricardo Almeida


O belo filme O Tigre e o Dragão, do diretor Ang Lee, é uma fábula oriental feita com extremo prazer estético e com muita sabedoria nas palavras e também nos gestos. Não vou fazer uma análise completa do filme, pois ele é cheio de detalhes e de ensinamentos que dariam para escrever um livro com muitas páginas. Aqui, quero apenas destacar alguns momentos que me marcaram profundamente e que tento assimilar visceralmente para a minha vida. Como vou rever o filme diversas vezes, sei que farei outras reflexões tão importantes como estas. Vejam quais são as minhas preferidas:

1) O gesto é bem mais importante do que as palavras: num certo momento do filme, quando estão tentando identificar a pessoa que robou a valiosa espada do prefeito, a mestre deixa cair intencionalmente uma xícara e a pequena aprendiz rapidamente a segura no ar. Neste simples gesto fica claro que a menina possuía todas as habilidades daquele ladrão fugitivo. As palavras dela não correspondiam a realidade, e o gesto (teste aplicado pela mestre) revelou o que realmente se escondia por trás das palavras;

2) A diferença entre a sabedoria e o conhecimento: Quando a Raposa Jade (Fox - a babá) diz que ela não sabia ler e que todo o seu ensinamento veio através de fragmentos das leituras feitas pela menina aprendiz, ela revela o verdadeiro poder do conhecimento e do não conhecimento. Ou seja, se alguém aprende somente através da leitura que os outros fazem, essa sua "leitura" fica muito reduzida... E, se essa leitura foi feita por um aprendiz, pior ainda... Essas pessoas precisam ter a humildade de reconhecer o fato de que não estudaram com profundidade as lições da vida... Senão, elas acabam se tornando pessoas "embrutecidas" , "donas da verdade" e até "raivosas". No filme, o conhecimento é tratado de forma diferente da sabedoria... assim, com deve ser!!! Enquanto aquele tenta provar a veracidade das "coisas", a sabedoria tenta construir um processo pedagógico... ou seja, a sabedoria questiona quase tudo, inclusive a si mesma!


3) A verdadeira habilidade: Uma das cenas mais hilárias do filme é quando a menina aprendiz é desafiada por vários querreiros que se auto-intitulam "grandes", "fortes", "velozes", "imortais" (adjetivos inventados por mim, pois não revi o filme para escrever este texto - depois eu revejo e atualizo). Primeiro, ela fica em profundo silêncio e depois, com poucos "golpes", ela derruba quase todos... Muitos fogem!!! Neste momento, ela já estava observando o silêncio e adquirindo a sua verdadeira habilidade: aquela que nasce sem rótulos e sem esforço!


4) O uso da força e a adversidade: Nas cenas finais o mestre e a menina aprendiz travam uma luta agarrados em enormes bambus plantados... Como se os bambus representassem a necessidade da gente ser mais flexível diante de uma adversidade... A sabedoria oriental nos diz que os bambus são mais fortes do que o ferro. Enquanto o ferro fica torto ao se dobrar, o bambu quase sempre volta a sua posição original. Mesmo após os golpes, as tormentas e as chuvas.

5) O mêdo e a ousadia: Um amigo meu me disse que a menina se suicida naquele voo final... Eu prefiro dizer que ela aprende a "ousar na vida", e que essa cena faz parte de mais uma licença poética do autor. A compreensão dessa cena é muito importante para entender o filme, pois ela contém o seu maior significado: a ousadia de voar como um pássaro, e não como uma pluma.

Portanto, acho que trata-se de um filme para se ver com um certo distanciamento estético-crítico. Aquele que todo aprendiz deve adotar para perceber a profundeza "das coisas".

2 comentários:

  1. " a profundeza das coisas" começa com a sensível escolla dos filmes indicados.

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    Respostas
    1. Cesar, depois de 3 anos fui ver este teu comentário. Obrigado pelas palavras... abraço desde el sur

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